santa maria

Frota chega a 160 mil e impacta na economia e no trânsito

Deni Zolin

Foto: Renan Mattos (Diário)

Quem anda pelas ruas de Santa Maria, principalmente, no horário de pico, sabe bem os impactos provocados por esse número a seguir: a cidade bateu este ano a marca de 160 mil veículos em circulação, um número 118% maior do que em 2001, quando a cidade tinha 73 mil veículos. Nesses 18 anos e meio, Santa Maria ganhou 86 mil novos veículos. Hoje, a cidade tem uma média de 1,75 habitante por veículo, que traz impactos positivos e negativos. Ao mesmo tempo em que movimenta uma grande cadeia da economia, que vai desde as concessionárias até postos de combustíveis, oficinas mecânicas, lojas de pneus e seguradoras, provoca congestionamentos e número maior de acidentes.

Rede de esfihas vai abrir na Havan e gerar até 14 empregos

O economista da Ulbra Santa Maria Gilfredo Castagna aponta que, em função das quedas de vendas de carros novos entre 2015 e 2017, a frota envelheceu um pouco e, com isso, acabou favorecendo empresas de manutenção de veículos. Ele cita o exemplo de uma autopeças que teve alta de 30% nas vendas de 2017 para 2018 em função disso.

ANOFROTA EM SANTA MARIA
200173,8 mil
2009103.704
2018159.124
2019*(até julho)160.144

Os dados do Detran gaúcho de julho de 2019 apontam que, dessa frota de 160 mil unidades em Santa Maria, 97.342 são automóveis, seguido por 28,9 mil motos e 21,9 mil caminhonetas e utilitários. Nos últimos anos, esse último grupo foi o que mais cresceu. De 2013 para julho de 2019, o percentual de caminhonetas e utilitários em circulação na cidade cresceu 43%, enquanto o de automóveis subiu 18,3%, o de caminhões, 11,7%, e o de motos, 9,3%. 

Se pudéssemos enfileirar esses 160 mil veículos, daria uma fila de mais de 700 km de extensão. Só com os 86 mil veículos a mais que a cidade ganhou de 2001 para cá, seriam quase 400 km a mais de fila. Isso ajuda a entender o porquê de haver congestionamentos em horário de pico e da necessidade de obras de duplicação, como as da Faixa Velha de Camobi e da Travessia Urbana de Santa Maria, que consumirão mais de R$ 350 milhões.

FROTA POR TIPO DE VEÍCULOS





Automóvel
82.26697.34218,3%
Motocicleta, motoneta e ciclomotor
26.49528.9699,3%
Utilitários, caminhonetes e camionetas
15.32721.93643,1%
Reboques
4.389 5.991 36,5%
Caminhão e caminhão-trator
4.2274.725 11,7%
Ônibus e microônibus
1.353 1.478 9,2%
Tratores
197209 6,1%
Outros
14319435,6%
TOTAL134.397160.84419,6%

O professor da UFSM e doutor em mobilidade urbana Carlos Félix avalia que esse crescimento do número de veículos e da relação habitantes por veículo está acima da média nacional. Segundo ele, particularidades da região talvez possam explicar, como Santa Maria ser uma cidade de passagem e por atrair pessoas para estudar e buscar atendimento médico. De forma geral, é cenário comum nos países emergentes, em que o Brasil está vivendo uma expansão da frota que ocorreu na Europa há 50 anos. 

PREJUÍZOS 

Segundo Félix, os impactos para o trânsito são sempre negativos: mais congestionamentos, maior desgaste dos veículos circulantes, maior poluição, mais estresse, maiores prejuízos de produtividade das pessoas (trabalho, estudo) pela piora na qualidade de vida, etc.  

- O prejuízo é maior, claro, na medida em que, por um lado, a infraestrutura viária não acompanha o aumento da demanda e, por outro, não existe um programa de incentivo eficaz para que as pessoas utilizem mais as opções de transporte público (ônibus, táxi, aplicativos). Ou seja, o problema é mais o jeito com que utilizamos os veículos (baixíssima taxa de ocupação) do que a quantidade de veículos propriamente dita (vários países têm taxa de motorização maior e bem menos problemas de trânsito). Nesta perspectiva, até carona e programas de compartilhamento de veículos são bem-vindos - afirma.

ALTERNATIVAS PARA REDUZIR A TRANQUEIRA
Enquanto aqui a frota de veículos cresce, uma nova tendência já começa a ser observada nas grandes cidades do mundo. É a chamada desmotorização, ou redução do número de veículos por habitante, segundo o doutor em mobilidade Carlos Félix:

- O termo ainda soa estranho aos ouvidos brasileiros, mas tem sido cada vez mais falado na Europa e nos EUA como saída para amenizar problemas de mobilidade nas grandes cidades. Aqui, estamos ainda numa transição.

Criança de 2 anos é encontrada morta em São Gabriel

Mas enquanto a realidade aqui é diferente, o que poderia ser feito para reduzir os congestionamentos? Segundo Félix, restringir veículos na área central até pode ser uma boa alternativa, mas exige um estudo e planejamento muito detalhado e criterioso. Caso contrário, vai funcionar só como uma ampliação da área congestionada, em torno do núcleo com restrição.

NOVOS HÁBITOS 
Para ele, outra saída pode ser ofertar habitação e serviços onde houver estruturas físicas e operacionais de transportes, para tornar as cidades mais compactas e econômicas, reduzindo a necessidade de deslocamentos e, quando eles são necessários, que sejam por meio de transporte planejado e eficiente. Além disso, seria preciso definir áreas de circulação controlada, áreas compartilhadas com baixíssima velocidade para veículos, infraestrutura para pedestres e transportes não motorizados, como bicicletas e patinetes elétricos. Em resumo, é preciso reorganização espacial e mudanças no estilo de vida e na mentalidade dos deslocamentos. Alguns hábitos já estão mudando, como o uso de carros de transporte por meio de aplicativos e a tendência mundial de menos veículos. 

- Muitos jovens, pelas facilidade de outros usos, preferem até mesmo não ter CNH, o que era quase como uma exigência tempos atrás. Hoje, já se imaginam até mesmo não terem carros. Diante disso, é preciso de transporte público de qualidade. A tendência dos países mais desenvolvidos mostra experiências de cidades do mundo que apostaram nas restrições ao veículo particular e no incentivo ao uso do transporte público para se alcançar uma mobilidade urbana melhor, sempre acompanhada da melhoria e informatização do transporte coletivo - diz.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Santa Maria chega a 160 mil veículos, com impactos na economia e desafios no trânsito

Único apostador ganha prêmio de R$ 21,9 milhões na Mega-Sena Próximo

Único apostador ganha prêmio de R$ 21,9 milhões na Mega-Sena

Economia